Os números são reflexo de uma barreira que a pessoa
com deficiência enfrenta bem antes de buscar um emprego, quando ainda é criança
e é barrada de estudar. Hoje apenas 19% das escolas de ensino básico no
Brasil contam com acessibilidade e apenas 6% dos professores que atuam na educação básica têm formação
continuada específica em educação especial. Quando nos referimos a uma formação superior a realidade é ainda mais
desafiadora. Apenas 0,3% das pessoas com deficiência conseguem cursar uma
faculdade.
Para tirar esse imenso contingente da informalidade e alavancar políticas educacionais, a Lei Brasileira da Inclusão, projeto do qual sou relatora, propõe a criação do Auxílio Inclusão, um benefício que será concedido à pessoa com deficiência que ingressar no mercado de trabalho. A ideia é mudar a forma assistencialista com que o Governo trata esse cidadão hoje. Ao invés de ficar em casa, recebendo benefícios de subsistência do Estado, a pessoa com deficiência terá direito a um suporte financeiro para se tornar ativa na sociedade. Com isso, passará de beneficiada para contribuinte, como todo trabalhador.
Na pratica
funciona assim: ao ingressar no mercado de trabalho, a pessoa com deficiência
deixará de receber o benefício do Governo e passará a ganhar o Auxílio
Inclusão, que servirá como um estímulo para que ele se mantenha ativo no
mercado e também arque – sem prejuízos - com os custos da sua deficiência, como
transporte adaptado, órteses, próteses, tecnologias assistivas...
As vantagens
são inúmeras, inclusive para a Previdência do país, que deixará de apenas pagar
benefícios integrais para milhões de pessoas e passará a receber a contribuição
desses trabalhadores.
Contudo, o dever do empresariado não
pode ser apenas com a legislação, tem de ser com a sociedade. Não investir no
ser humano é não acreditar no próprio potencial da empresa em atingir diversos
públicos e mercados distintos.
Pessoas com deficiência remuneradas
por seu trabalho movimentam a economia como qualquer outra parcela da
população. Algumas empresas já entenderam isso e estão mudando sua forma de
gerir, algumas não só cumprem as cotas para seguir o protocolo, contratam
porque entendem que há ganhos são imensuráveis neste processo. Aprender com as
diferenças é só um deles.
O trabalho é sem dúvidas uma das
principais ferramentas de integração social de qualquer ser humano. Além de
garantir poder de consumo, dignidade, bem-estar e uma vida de perspectivas.
Mara
Gabrilli, 47 anos, é publicitária, psicóloga, foi secretária
da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora também por São Paulo.
Atualmente é Deputada Federal pelo PSDB/SP
Aos 26 anos, sofreu um acidente de carro que a deixou
tetraplégica. Indignada com a falta de acessibilidade, fundou em 1997 a ONG
Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli, para promover
acessibilidade, pesquisas e inclusão social em comunidades carentes e atletas
com deficiência. Em Brasília, tornou-se a primeira deputada Federal
tetraplégica do Brasil.
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